29 dezembro 2013

Enorme

Procurei pela minha história no reflexo de um espelho quebrado.
Imagem partida e imperfeita, praticamente destruída.
Pedaços grandes, médios, pequenos, minúsculos.

Impossível saber se estava um sorriso posto.
Inimaginável perceber se o olhar era firme.
Indecifrável entender se a postura tinha confiança.

Quem era a pessoa que estava ali?
Quem era a figura que se apresentava?
Que se passou com o espelho?

Partiu-se porque a vida nunca está inteira para um devaneador.
Porque cada sonho e cada momento são um pedaço único.
Pedaço grande, médio, pequeno, minúsculo.

Uma vida completa não se faz de uma só imagem.
E todas podem ser vistas de maneiras diferentes.
Mas a que mais perdura é a que não precisa de se ver.

Assim, a única certeza era conhecer-me e entender os muitos pedaços.
Saber olhar para o espelho sem medo do que poderia lá não estar.
Resgatar-me no momento em que me iria virar e correr…


Estava atrasado para mais um pedaço minúsculo, mais uma história…

22 novembro 2013

No Bom Caminho... Só os jovens podem quebrar!

Demorei meses! Meses! Nada fazia sentido! A história estava toda lá, mas com qualquer coisa em falta... O abanãozinho no coração...
Depois voltou uma frase que não ouvia vai para muito tempo com o significado que sempre lhe dei quando mais precisei... "Eu nunca pensei sobre amor, quando pensava sobre casa." E fez-se luz!
Dois dias, doze páginas. Parece e é pouco. Mas é o suficiente para finalmente acabar o capítulo que dá toda a esperança do mundo a um homem, para o destruir a partir daí... Por saber o que se vai passar a seguir é que foi tão difícil encher uma personagem de esperança... É assim mesmo. As minhas personagens principais estão destinadas a terem quase tudo e conseguirem sempre nada. Mais não digo. Apenas o que ficará para impressão:

"E sorrir à distância, com um sentimento de pertença no dia em que finalmente tudo mude. Por sabermos que foram as nossas falhas a limar este caminho… Mas ele já não é o nosso... Já lutámos, sofremos, perdemos e pagamos. Caro. Demasiado. Muitos anos afastados sem esperança neste reencontro. Chega! Anda... Agora, sejamos espectadores atentos, apenas… Anda.

Anda meu amor! Por favor! Anda… Anda! Liberta-te! Porque… Já não somos sonhadores! Não aguentámos outro erro, outra desilusão, outro adeus. O tempo joga contra nós, e agora: O tempo é deles! Só deles! Afinal, só eles... Só os jovens podem quebrar…"

03 novembro 2013

Sabem porque gosto dos Joy Division?

Sabem porque gosto dos Joy Division?
Porque é a imperfeição perfeita. Porque é tudo que poderia ser e não foi. Porque é o fatalismo realista. Porque é o cinzento demasiado escuro.
A música dos Joy Division faz-me querer que existe uma ligação directa, mas distante, entre um individuo que faz de conta que é o vocalista e uma banda que faz de conta que está a tocar com ele.
A letra, a voz - Ian, vive uma anunciada beleza lírica destrutiva e fatal, sempre consumada na última palavra. Uma luta constante por um controlo de sentimentos que nunca poderão ser contidos e que vivem ao ritmo de uma qualquer batida.
A banda, a melodia – Joy, vive numa Manchester suja, chuvosa, esquecida. Não se preocupa que a batida pareça desformada, mas sim que haja a transmissão do momento, do segundo, da realidade, da atmosfera em que essa batida foi tocada.
A letra é a anarquia que vive dentro de um génio. A voz é a desordem que confirma as cores para que estas transmitam somente um pesado cinzento, amordaçado pela certeza de que algo mais negro está a chegar.
A banda é a amizade de uma mesma condição social. A melodia é o produto de uma juventude adiada que caminha junta sem saber bem para onde, apenas com a certeza que existe um sentimento comum de que o caminho certo é seguir aquela voz.
Também gosto deles porque socialmente, economicamente e culturalmente a minha cidade (hoje diria mesmo o meu país) é muito parecida com a Manchester industrializada e sem alma que procura um simples significado nas entrelinhas para existir mais um dia.
E porque o barulho que oiço dos meus amigos é imperfeitamente original, como aquele dos Joy Division.
Porque a responsabilidade de não perder o controlo às vezes provoca em mim uma alma morta.
Porque o amor que nos separa sabe que tem de ser desta vez… Esta cerimónia é desordem, é amor.
Puro, bruto, inacabado, louco, descontrolado.
Joy Division, é a história daquilo que pode ser melhor em tudo, mas contenta-se por ser para sempre... Uma história inacabada.
Genial? Brilhante? Fantástica? Única? Transcende? Berrante? Mais adjectivos?
Suja? Ruidosa? Obscura? Chuvosa? Fria? Adiada?
Não. Simplesmente... Uma história inacabada.
E, no mesmo momento em que o mundo se rendeu ao talento de uma banda cujo único objectivo era existir para ver nascer mais um dia, Ian escreveu uma letra onde não usou papel, caneta ou palavras… Porque escreveu no nosso imaginário o mito Joy Division.
E, depois, friamente, como resposta ao desertar de Ian, a banda, a melodia, decide escrever uma outra história como se fosse uma nova ordem para renascer que pairou nas suas cabeças como uma tentação pelo ritmo e a cor depois de uma segunda-feira triste, porque a vida continua…
Cheia de histórias inacabadas. Cheia de promessas que nunca passarão disso. Cheia de sonhos que nunca se materializarão… A vida continua.

P.S.: Quiz – Quantos citações fiz a músicas dos Joy Division (também New Order) neste texto?



01 novembro 2013

Só os Jovens podem quebrar (Parte solta)

“O quarto cheira a casa. A casa!
Não no sentido de odor, fragrância, perfume… Não é corporal.
Não são eles ali deitados. Nem a roupa da cama, suada por eles. Ou as farpelas espalhadas pelo chão… Não é tecido.
Não é a madeira dos móveis. Tão pouco é o plástico electrónico. Sequer é o vidro das luzes que os iluminam… Não é fabricado.
Cheira a casa porque eles estão juntos. Tudo é familiar. Tudo é memória. Tudo é fácil. Tudo faz sentido. 
De novo! De novo. De novo…
São eles.
Juntos são os alicerces que suportam o peso do passado. O cimento que estrutura o espaço do presente. A tinta que dá cor a um futuro.
Cheira a casa!
E um novo acordar é o recheio que decora o momento…
O primeiro reencontro… Cheio de medo… Tudo parece perfeito demais… Fácil demais. Seguro demais. Até para quem partilha o mesmo tecto depois de uma longa travessia.
Ambos estão demasiado presos à ideia de que o outro, do nada, dirá algo que afecte profundamente as fundações deste recomeço...
Os olhares são de crianças aventureiras.
Os sorrisos de adolescentes decididos.
Os suspiros de adultos conscientes.
Os silêncios de idosos cautelosos.

Nenhuma palavra é ouvida mas tudo é dito…”