Sabem porque gosto dos Joy Division?
Porque é a
imperfeição perfeita. Porque é tudo que poderia ser e não foi. Porque é o
fatalismo realista. Porque é o cinzento demasiado escuro.
A música dos
Joy Division faz-me querer que existe uma ligação directa, mas distante, entre
um individuo que faz de conta que é o vocalista e uma banda que faz de conta
que está a tocar com ele.
A letra, a
voz - Ian, vive uma anunciada beleza lírica destrutiva e fatal, sempre
consumada na última palavra. Uma luta constante por um controlo de sentimentos
que nunca poderão ser contidos e que vivem ao ritmo de uma qualquer batida.
A banda, a
melodia – Joy, vive numa Manchester suja, chuvosa, esquecida. Não se preocupa
que a batida pareça desformada, mas sim que haja a transmissão do momento, do
segundo, da realidade, da atmosfera em que essa batida foi tocada.
A letra é a
anarquia que vive dentro de um génio. A voz é a desordem que confirma as cores
para que estas transmitam somente um pesado cinzento, amordaçado pela certeza
de que algo mais negro está a chegar.
A banda é a
amizade de uma mesma condição social. A melodia é o produto de uma juventude
adiada que caminha junta sem saber bem para onde, apenas com a certeza que
existe um sentimento comum de que o caminho certo é seguir aquela voz.
Também gosto
deles porque socialmente, economicamente e culturalmente a minha cidade (hoje
diria mesmo o meu país) é muito parecida com a Manchester industrializada e sem
alma que procura um simples significado nas entrelinhas para existir mais um
dia.
E porque o
barulho que oiço dos meus amigos é imperfeitamente original, como aquele dos
Joy Division.
Porque a
responsabilidade de não perder o controlo às vezes provoca em mim uma alma
morta.
Porque o
amor que nos separa sabe que tem de ser desta vez… Esta cerimónia é desordem, é
amor.
Puro, bruto,
inacabado, louco, descontrolado.
Joy
Division, é a história daquilo que pode ser melhor em tudo, mas contenta-se por
ser para sempre... Uma história inacabada.
Genial?
Brilhante? Fantástica? Única? Transcende? Berrante? Mais adjectivos?
Suja?
Ruidosa? Obscura? Chuvosa? Fria? Adiada?
Não.
Simplesmente... Uma história inacabada.
E, no mesmo
momento em que o mundo se rendeu ao talento de uma banda cujo único objectivo
era existir para ver nascer mais um dia, Ian escreveu uma letra onde não usou
papel, caneta ou palavras… Porque escreveu no nosso imaginário o mito Joy
Division.
E, depois,
friamente, como resposta ao desertar de Ian, a banda, a melodia, decide
escrever uma outra história como se fosse uma nova ordem para renascer que
pairou nas suas cabeças como uma tentação pelo ritmo e a cor depois de uma
segunda-feira triste, porque a vida continua…
Cheia de
histórias inacabadas. Cheia de promessas que nunca passarão disso. Cheia de
sonhos que nunca se materializarão… A vida continua.
P.S.: Quiz –
Quantos citações fiz a músicas dos Joy Division (também New Order) neste texto?